- Os morangos estão morrendo. - Ela disse. E o rosto tão triste, tão devastado e verdadeiramente sofrido pelos morangos que eu fingi não entender.
- O quê?
- Os morangos, Carlos, estão morrendo.
E o rosto comido por dores inexistentes, tpm fora de época, pílulas e cigarros e amores acabados. E tudo, tudo era um motivo triste.
Eu fui sensível o suficiente para entender e não debochar de sua dor. Frase proibida, escrita à lápis no nosso manual-de-vida-básica: “Nunca dizer: Essas coisas acontecem, é natural” ou “Bobagem, não fique assim”. Auto-ajuda e mantras também ficavam cuidadosamente do lado de fora de casa e sofríamos de-li-be-ra-da-men-te. Assim, dessa forma esticada e sem pressa porque “Há muito sofrimento no mundo, Carlos. E nosso papel é chorar por aqueles que não podem.”
- Podemos cantar uma música fúnebre ou então rezar alguma prece. O que você acha?
- Qual música?
- Eu não sei. Moon River me lembra você.
- Strawberry fields forever faz mais sentido.
- É verdade. Mas eu só sei o refrão (…) Nós também poderíamos entrar e ouvir Frank Sinatra. Tomar vinho e fumar. Conversar sobre o mundo…
- Mundo? É muito vago, Carlos. Mas eu gostaria de chá.
- Qual chá?
- Cidra. Porque me acalma.
E ela foi na frente. Pálida e fraca, sustentando dores universais em seus ombros pequenos. Cantarolando Nico e entrando no segundo round com suas franjas teimosas e loiras.
Trazia o colo e as mãos ensanguentadas. Os pingos rubis marcando seus passos pela calçada cinza de negrito. E essa visão foi a minha profecia diante de seus olhos fundos de noites insones: esses seriam os primeiros de todos os morangos que iriam morrer. Uma cadeia vertiginosa que nunca estancaria.
Assim como Clara não escapava de sangrar todo mês.
- Você está muito bonita, Clara.
- E cheirando morango, Carlos.
- Claro. E cheirando morangos silvestres.
- O quê?
- Os morangos, Carlos, estão morrendo.
E o rosto comido por dores inexistentes, tpm fora de época, pílulas e cigarros e amores acabados. E tudo, tudo era um motivo triste.
Eu fui sensível o suficiente para entender e não debochar de sua dor. Frase proibida, escrita à lápis no nosso manual-de-vida-básica: “Nunca dizer: Essas coisas acontecem, é natural” ou “Bobagem, não fique assim”. Auto-ajuda e mantras também ficavam cuidadosamente do lado de fora de casa e sofríamos de-li-be-ra-da-men-te. Assim, dessa forma esticada e sem pressa porque “Há muito sofrimento no mundo, Carlos. E nosso papel é chorar por aqueles que não podem.”
- Podemos cantar uma música fúnebre ou então rezar alguma prece. O que você acha?
- Qual música?
- Eu não sei. Moon River me lembra você.
- Strawberry fields forever faz mais sentido.
- É verdade. Mas eu só sei o refrão (…) Nós também poderíamos entrar e ouvir Frank Sinatra. Tomar vinho e fumar. Conversar sobre o mundo…
- Mundo? É muito vago, Carlos. Mas eu gostaria de chá.
- Qual chá?
- Cidra. Porque me acalma.
E ela foi na frente. Pálida e fraca, sustentando dores universais em seus ombros pequenos. Cantarolando Nico e entrando no segundo round com suas franjas teimosas e loiras.
Trazia o colo e as mãos ensanguentadas. Os pingos rubis marcando seus passos pela calçada cinza de negrito. E essa visão foi a minha profecia diante de seus olhos fundos de noites insones: esses seriam os primeiros de todos os morangos que iriam morrer. Uma cadeia vertiginosa que nunca estancaria.
Assim como Clara não escapava de sangrar todo mês.
- Você está muito bonita, Clara.
- E cheirando morango, Carlos.
- Claro. E cheirando morangos silvestres.
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