Meu amor,
Desde que você se foi tudo começou a dar errado, desandar mesmo. Os vidros continuam quebrando e nosso piso de madeira já gasto, começa a desbotar. Me sinto parte do chão, dos passos e saltos que atravessam o teto, dos carros que cortam as avenidas disputando corridas de madrugada. Eu presto atenção em tudo. Hoje faltou luz, mas eu não senti nada. Nem mesmo medo.
Eu passei a entender o seu cinismo habitual, a sua dor por tudo que é passado e a sua falta de fé nas promessas de dias claros. "Porque as noites são sempre as mesmas e os finais é a nossa declaração de guerras perdidas há muito tempo."
É tão difícil acreditar em qualquer coisa. As paredes antes mudas, atentas aos nossos suspiros, hoje sussurram pelo silêncio do quarto, ecos do meu coração.
O preço das memórias são pedaços de alma, Elizabeth. Me ensina essa sua autossuficiência e a ser alguém forte, que cai de costas acreditando apenas em olhos fechados. Eu ainda abro os olhos um segundo antes e me agarro aos cantos. É isso e outras coisas menores que me prendem.
Me ensina essa sua coragem fria de ser solidão.
Eu também quero ir embora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário