Tudo me parecia cinza, esparso e também estranho. E o mesmo acontecia com os dias, com as músicas, com a sua face iluminada em um filme noir clássico e impecável. Também as estrelas, o céu sufocante e infinito, o amor que nos aprisiona debaixo das principais constelações, anjos e Beethoven à parte.
Eu via tudo isso e tudo isso me parecia cinza, eu pensava, isso também está dentro de mim, enquanto eu caminho soturno pelos bares e avenidas, respiro, transbordo cambaleante pela superficialidade das coisas.

sexta-feira, janeiro 13

Quero falar da Islândia, de Cartago e Esparta, mas não conheço nada. Nunca estive lá.
Assim como o amor que nunca tive ou senti, mas espero.

O saxofone do velho cego na esquina da minha rua que não compreendo as notas, mas que sofro do mesmo modo, junto as lamentações do mundo inteiro. E falando do mundo inteiro quero me sentir grande também.

Os versos que guardo junto aos lábios e as moedas que venho deixando ao chão ao compasso dos meus pedidos secretos e que não tenho coragem de rezar a Deus. Meus pecados diários que não deixam com que eu perca o caminho ou as chaves de casa.

Meus andrajos jogados ao piso de cerâmica e meu lado soturno que aparece quando fumo ao lado dele. E espero que não passe nunca.

Que meus sonhos continuem e eu não perca a realidade dos meus pés que contam os passos e os medos honestos e necessários para continuar sendo uma escritora de merda.

Eu ainda sorrio porque ainda me restam 18 dias. E nada, nunca se perde de verdade.

Um comentário:

  1. Nossa, que texto bom de se ler. Tem vários elementos não-comuns que terminam atraindo a atenção. É tanto que ao terminar de ler temos que fazer a releitura, pois a primeira foi só a fome por essas palavras surpresas dentro do texto. Adorei seu estilo. :D

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