Tudo me parecia cinza, esparso e também estranho. E o mesmo acontecia com os dias, com as músicas, com a sua face iluminada em um filme noir clássico e impecável. Também as estrelas, o céu sufocante e infinito, o amor que nos aprisiona debaixo das principais constelações, anjos e Beethoven à parte.
Eu via tudo isso e tudo isso me parecia cinza, eu pensava, isso também está dentro de mim, enquanto eu caminho soturno pelos bares e avenidas, respiro, transbordo cambaleante pela superficialidade das coisas.

terça-feira, novembro 8

Começo a pensar se entendo tudo o que quero dizer. Tudo que preciso dizer. Toda a intenção forçada por uma angústia irrevogável. Por uma angústia sem precedentes. Sem colapsos anteriores que explicariam a dor, que explicariam porque eu me contorço e me arranho dessa forma. Porque o peito aperta, porque eu me sufoco sem motivo aparente.

Sem traumas. Só uma dor que acompanha e que sofre, que quer transcender. E as mãos que travam, que me interrompem, que me prendem ao chão. Que não me deixam voar ou me afundar no fundo do rio. Ainda assim, preciso escrever. As coisas precisam ser ditas. É importante, mesmo que eu não mude o mundo ou que você pise nas minhas palavras, que você ria do meu desespero, ainda assim, as coisas precisam ser declaradas. Mesmo que você não leia, não compreenda ou que tudo permaneça da mesma forma.

Eu preciso te contar os meus segredos sofridos que se escondem atrás dos meu parágrafos também sofridos. Dói escrever e ainda assim eu me forço, eu padeço, eu sofro escrevendo.

A minha história que precisa ser escrita e recontada em parágrafos intermináveis. Eu sofro por entre minhas falhas. E elas são muitas: esse é o problema.

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