Tudo me parecia cinza, esparso e também estranho. E o mesmo acontecia com os dias, com as músicas, com a sua face iluminada em um filme noir clássico e impecável. Também as estrelas, o céu sufocante e infinito, o amor que nos aprisiona debaixo das principais constelações, anjos e Beethoven à parte.
Eu via tudo isso e tudo isso me parecia cinza, eu pensava, isso também está dentro de mim, enquanto eu caminho soturno pelos bares e avenidas, respiro, transbordo cambaleante pela superficialidade das coisas.

domingo, outubro 30

Hoje nada de oba-oba ou mon-amour. Quero sexo e atenção.

Agora sem pudor e sem puxação-de-saco das minhas sacadas, às quatro da manhã, depois de um Godard. O satori acontece sempre quando chove, quando tô sozinha e fechadona. Quando você conversa e eu não presto atenção em nenhuma palavrinha sequer. Acontece quando você toca minha coxa e puxa meu cabelo pra trás. Acontece quando o homem da mesa em frente repara nas minhas pernas expostas por debaixo da mesa e você quer puxar briga, quer mostrar que sabe segurar meu pulso e ele é um merda.

Tá certo, tá certo. Você é quem manda.

Eu te toco pela calça, fico na ponta dos pés, te deixo com vontade de mundo e saio na frente pra você me olhar por trás. Sem pudor. Sem esclarescimento das minhas atitudes todas pensadas e pior: premeditadas.

O jogo é assim. A cena é no quintal com o varal e os prendedores querendo voar. Tudo é preto e branco e funciona.
Eu te amo, você me ama. A gente sabe disso. O mundo sente isso.

E leio Henmingway pra ser fria e calculista. Me exponho até mesmo agora nas minhas falhas e tentativas frustradas.

É bom ser levada a sério de vez em quando. Nada de metáforas ou me esconder atrás da toalha ao som de Lucy in the sky with diamonds. Deixar o pano cair, tropeçar mais mil vezes, ter orgulho do meu chão, te beijar até o seu sangue ser o mesmo que corre em mim.

É assim que se escreve sobre amor.

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