Eu perguntei se ele realmente havia beijado Valentina e ele disse que não. Que queria ter beijado e por isso mentiu. Disse também que a boca dela é pequena e parece um morango e que queria guardar o gosto dela em uma caixa.
Eu fingi que não tinha ouvido nada.
Ele entendeu.
(...)
Tudo me parecia cinza, esparso e também estranho. E o mesmo acontecia com os dias, com as músicas, com a sua face iluminada em um filme noir clássico e impecável. Também as estrelas, o céu sufocante e infinito, o amor que nos aprisiona debaixo das principais constelações, anjos e Beethoven à parte.
Eu via tudo isso e tudo isso me parecia cinza, eu pensava, isso também está dentro de mim, enquanto eu caminho soturno pelos bares e avenidas, respiro, transbordo cambaleante pela superficialidade das coisas.
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