Tudo me parecia cinza, esparso e também estranho. E o mesmo acontecia com os dias, com as músicas, com a sua face iluminada em um filme noir clássico e impecável. Também as estrelas, o céu sufocante e infinito, o amor que nos aprisiona debaixo das principais constelações, anjos e Beethoven à parte.
Eu via tudo isso e tudo isso me parecia cinza, eu pensava, isso também está dentro de mim, enquanto eu caminho soturno pelos bares e avenidas, respiro, transbordo cambaleante pela superficialidade das coisas.

terça-feira, novembro 8

Eu tinha seis e ele sete. A gente cavalgava em cavalinhos de pau. Eu vestia branco e ele preto e é claro que ele sempre ganhava.

Bang bang. Ele atirou em mim.
Bang bang. Eu caio no chão.
Bang bang. Aquele som terrível.
Bang bang. Meu amor atirou em mim.

As estações passaram e o tempo também. Fiquei adulta e o chamei de "meu". Ele sempre ria e dizia: lembra de como a gente brincava?

"Bang bang. Eu te acertava.
Bang bang. Você caía no chão.
Bang bang. Aquele som terrível.
Bang bang. Eu costumava atingir você."

A música tocou e as pessoas cantaram. Apenas para mim os sinos da igreja tocaram.
Agora ele se foi, eu não sei por quê. Desde esse dia, às vezes eu choro.
Ele nem ao menos disse adeus. Ele nem mesmo gastou seu tempo mentindo.

Bang bang. Ele atirou em mim.
Bang bang. Eu caí no chão.
Bang bang. Aquele som terrível.
Bang bang. Meu amor atirou em mim.

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